Ela foi considerada uma deusa "pagã", atacada na Bíblia como uma das maiores inimigas do cristianismo, serviu pra representar a cobra que corrompeu Adão e Eva com a tal maçã, e pode até ter dado origem dos cultos do divino feminino, classificados como bruxaria séculos mais tarde, e tão combatidos pela inquisição... Ashera (ou Asserá em Português) pode ter sido a esposa do deus bíblico Jeová, além da "mãe renegada e injustiçada" de Jesus que foi apagada da história. Assim como Maria Madalena, a deusa teria sido vítima da sociedade que valorizava apenas os homens.
Essa história apareceu pela primeira vez em 1967, através do historiador Raphael Patai, e depois a teoria ganhou ainda mais destaque na pesquisa da professora sênior do departamento de Teologia e Religião da Universidade de Exeter, Francesca Stavrakopoulou.
Segundo os especialistas, são várias as evidências: inscrições misteriosas, pequenas estatuetas de cerâmica, e até trechos da própria Bíblia. Tudo indica que a deusa seria a companheira do deus judaico cristão Javé/ Jeová.
Menções bíblicas da 'esposa de deus'
Ela é mencionada pelo menos 40 vezes na bíblia hebraica, e inclusive teria sua figura representada dentro do Templo de Jerusalém, o Templo de Javé. No Livro dos Reis, consta que uma estátua de Asherah foi colocada no templo e que as mulheres teceram vestimentas para ela em um ritual. Josias, rei de Judá (o reino israelita do sul), teria arrancado a estátua e todos os símbolos da deusa do templo e queimado, por volta do ano 620 a.C. Segundo os pesquisadores, ele teria feito isso por que achava que o culto à essa deusa era uma influência negativa, que competia com o culto ao verdadeiro deus dos israelitas.
Culto à Deusa Ashera
O culto à Asherah também parece ter sido muito importante fora de Jerusalém, nos chamados "lugares altos", onde árvores vivas eram cultuadas como símbolo da deusa.
Estatuetas femininas dos antigos israelitas que representam traços maternais, seios fartos e ventres grávidos, valorizando os atributos femininos considerados divinos. |
Isso acontecia em santuários ao ar livre, nos topos das montanhas, evidenciando uma profunda ligação com a natureza. Asherah seria uma forma de reverenciar a fertilidade feminina e o papel da mulher, com a árvore como símbolo disso tudo.
Durante muito tempo, esse tipo de culto foi considerado uma influência religiosa estrangeira sobre o povo de Israel, conforme o que dizia a Bíblia. Mas o consenso atual é que os israelitas não tiveram uma origem separada dos cananeus, seus vizinhos pagãos. A maior parte dos habitantes de Judá e Israel (nome um tanto confuso do reino israelita do norte) parecem ter sido um grupo de origem majoritariamente cananéia que foi assumindo uma entidade cultural distinta aos poucos. E, entre os cananeus, Asherah era a esposa de El, o soberano dos deuses -- mais ou menos como Zeus, na mitologia grega, tinha sua mulher divina, a deusa Hera.
Durante muito tempo, esse tipo de culto foi considerado uma influência religiosa estrangeira sobre o povo de Israel, conforme o que dizia a Bíblia. Mas o consenso atual é que os israelitas não tiveram uma origem separada dos cananeus, seus vizinhos pagãos. A maior parte dos habitantes de Judá e Israel (nome um tanto confuso do reino israelita do norte) parecem ter sido um grupo de origem majoritariamente cananéia que foi assumindo uma entidade cultural distinta aos poucos. E, entre os cananeus, Asherah era a esposa de El, o soberano dos deuses -- mais ou menos como Zeus, na mitologia grega, tinha sua mulher divina, a deusa Hera.
Evidências da deusa Asherah
Graças a arqueologia, vários dados surpreendentes vieram à tona: no sítio arqueológico de Kuntillet Ajrud, no Sinai egípcio, perto da fronteira com Israel, foi localizado um local que funcionava como ponto de parada de caravanas, onde havia até um templo.
Inscrições e desenhos em fragmentos de cerâmica de Kuntillet Ajrud revelam frases, datadas em torno do ano 800 a.C., pedindo a benção de "Javé de Samaria [capital do reino israelita do norte] e sua Asherah" e "Javé de Teiman e sua Asherah". No caso da primeira frase, há um desenho estranhíssimo de duas figuras com corpo humano e cabeça que lembra a de bovinos, uma delas com traços mais masculinos e outra com traços mais femininos. Será que era assim que alguns dos antigos israelitas imaginavam Javé e sua esposa Asherah?
O outro lado da polêmica
Especialistas mais conservadores relutam em reconhecer a veracidade das novas teorias. Eles rebatem com algumas explicações: Os desenhos com cabeça de touro poderiam ser justificados porque esse animal representa força e poder no culto de Samaria. Quanto ao termo "sua Asherah", isso pode se referir a um objeto, não a uma pessoa ou a uma deusa, já que a palavra "asherah", além de ser o nome de uma deusa dos cananeus, também é uma palavra comum que designa um poste de madeira usado para cerimônias religiosas.
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